Antidepressivos e Aumento de Peso: Qual é a ligação?

Engordar é um possível efeito secundário dos antidepressivos que preocupa os pacientes

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Há muito que se associa os antidepressivos ao aumento de peso. Isto preocupa muitos dos que vivem com a depressão e querem procurar tratamento sem terem de ver o número na balança a subir.

Os Antidepressivos Engordam?

“O uso frequente de antidepressivos pode estar a contribuir para a epidemia de obesidade nos países desenvolvidos, dizem os autores de um novo estudo que descobriu que é 21% mais provável quem os toma por um período prolongado engordar.”

Este é o parágrafo de abertura de um artigo publicado no jornal britânico (link: The Independent, em 2018.

O artigo refere-se a um estudo que concluiu que ganhar peso era mais provável para as pessoas que tomavam antidepressivos do que para quem não os tomava, especialmente se estivessem a tomar a medicação há dois ou mais anos.

O estudo também apontou a mirtazapina, frequentemente vendida como Remeron, como o antidepressivo que levava com maior frequência ao ganho de peso. Os investigadores concluiram que os antidepressivos deviam ser encarados como último recurso para tratar casos mais ligeiros de depressão e que os outros métodos, tal como a terapia, deviam ser priorizados.

Este é só um dos últimos estudos a ligar os antidepressivos ao aumento de peso. Alguns estudos indicam que cerca de uma em quatro pessoas que toma antidepressivos ganha pelo menos 4.5kg. É importante salientar que não está provado que os antidepressivos causem diretamente este aumento de peso, mas parece existir algum tipo de ligação.

Alguns antidepressivos – ou tipos de antidepressivos – estão mais associados ao aumento de peso do que outros. É o caso dos:

Antidepressivos tricíclicos, incluindo a Amitriptilina (vendida como Elavil, entre outros), a Imipramina (Tofranil) e a Doxepina (Sinequan).

Inibidores da monoamina oxidase (IMAO), incluindo a Fenelzina (Nardil), a Isocarboxazida (Marplan) e a Tranilcipromina (Parnate).

Há dados que sugerem que os Antidepressivos tricíclicos e os IMAO, categorias antigas de antidepressivos, são os que tendem a levar ao aumento de peso.

Mas também alguns inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) mais modernos já foram associados ao aumento de peso. É o caso da paroxetina (Paxil, Pexeva, Brisdelle), da Sertralina (Zoloft), da Fluoxetina (Prozac) e do Citalopram (Celexa). Alguns estudos sugerem que o uso prolongado (mais de seis meses) de ISRSs é mais propício ao aumento de peso do que a utilização a curto prazo.

Qual a Ligação Entre os Antidepressivos e o Aumento de Peso?

A natureza da ligação entre os antidepressivos e o aumento de peso ainda não foi totalmente determinada. No entanto, há duas teorias comuns que podem ajudar a explicá-la.

A primeira teoria sugere que engordar pode ser precisamente um sinal de que os antidepressivos estão a funcionar.

Teoria 1: Voltar a Sentir Prazer em Comer

Deixar de gostar de comer, perda de peso e apetite são sintomas bem documentados de depressão. É, portanto, lógico que o tratamento da depressão pode restaurar o apetite e o prazer em comer, o que pode levar ao aumento de peso. O tratamento eficaz da depressão pode também levar a uma melhor vida social, o que pode envolver situações sociais em que o consumo de comida e alcool é parte integrante.

Paralelamente, algumas pessoas que comem compulsivamente devido à depressão dão por si a comer menos depois de procurarem tratamento. Este fenómeno, adicionado à maior energia e a uma maior inclinação para fazer exercício, pode explicar o porquê de algumas pessoas perderem antes peso quando começam a tomar antidepressivos.

Estes fatores podem explicar a inconsistência dos estudos que investigam o ganho/aumento de peso e a sua relação com o uso de antidepressivos. Muitos destes fenómenos podem depender dos sintomas pessoais e das mudanças de hábitos que acontecem depois do tratamento.

No entanto, esta teoria não explica o porquê de existirem antidepressivos mais associados ao aumento (ou perda) de peso do que outros.

Teoria 2: Influência no Metabolismo e Apetite

O psiquiatra americano Norman Sussman revelou ao site Drugs.com que já teve pacientes que lhe garantiram que estavam a engordar sem comer mais.

Isto, afirma Sussman, sugere que pode haver alguma influência metabólica que leve a um aumento de peso.

Mas o psiquiatra afirma ainda que já teve pacientes que confessaram sentir um maior apetite, que persisitia até quando comiam mais, assim como uma maior vontade de carbohidratos/hidratos de carbono. Esta dificuldade em saciar o apetite pode levar os pacientes a comerem mais e engordarem.

Ao contrário da teoria anterior, que liga os antidepressivos a um retorno do gosto pela comida, esta exaplicação sugere que os antidepressivos podem exercer influência direta sobre o metabolismo e o apetite.

Muitos peritos acreditam que este efeito está ligado à serotonina, o neurotransmissor sobre a qual a maioria dos antipressivos agem. Há muito que a serotonina é associada há regulação do apetite, e há até estudos recentes que a ligam à metabolização da gordura.

A este ponto, parece provável que ambas as teorias tenham um fundo de verdade, embora também possa haver influência de fatores externos.

O que Fazer?

Praticamente todos os medicamentos vêm com o risco de efeitos secundários. Embora o aumento de peso seja um possível efeito de muitos antidepressivos, ele não é experienciado por todos os pacientes. Muitas das pessoas que tomam antidepressivos não ganham peso nenhum ou ganham apenas um pouco. Alguns perdem o peso extra assim que o corpo se ajusta à medicação, e há até pacientes que perdem peso.

Em alguns casos, a perda ao aumento de peso vem corrigir flutuações de peso que eram em si sintomas de depressão, o que pode ser visto como positivo.

Há, no entanto, casos em que o aumento de peso é uma preocupação mais séria. Pode minar a auto-estima e aumentar o risco de complicações associadas ao excesso de peso ou à obesidade.

Em suma, todas as suas preocupações sobre este assunto devem ser discutidas com o seu médico. Se lhe foram receitados antidepressivos, é aconselhado que os continue a tomar exatamente da forma recomendada a não ser que o seu médico lhe indique o contrário. Parar abruptamente de tomar antidepressivos pode levar a um agravamento dos sintomas de depressão e a outros riscos..

Embora seja um processo lento e frustrante, é possível que sejam necessárias várias tentativas até encontrar um tratamento eficaz e livre de efeitos secundários. Mas o resultado a longo prazo é uma maior qualidade de vida, sem aumento de peso não desejado nem outras complicações.


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